Por Paulo Stenzel*
Nós, os publicitários, somos uma classe ridiculamente desunida. É isso que nos torna tão vulneráveis a qualquer activista-sem-causa de plantão.
Somos tão desunidos que, se eu resolvesse agora enviar um sms a convocar os colegas para uma manifestação de publicitários, os que recebessem a mensagem dividiriam-se entre os que passariam o dia a criticar o texto e os que boicotariam o evento por não ter sido proposto por eles próprios.
Nos últimos tempos temos sido alvo de ofendidos de todo o tipo. Os escoteiros (e os escuteiros) entraram com processo por interpretarem que uma inocente campanha os chamou parvos, atitude que pode ser uma confirmação disto mesmo.
Um pouco antes, os homossexuais sentiram-se ofendidos por alguém manifestar o orgulho de ser hetero. E agora parece que até os vendedores de carros, que eu nem sabia fazerem parte de uma minoria, resolveram ofender-se com a publicidade.
Nós somos um alvo tão fácil que, ao invés de contratar uma agência que crie uma campanha a dizer bem deles, preferem contratar advogados.
Ou seja, andamos tão mal vistos que já se tornou preferível levar com um advogado a levar com um publicitário.
E nós, o que fazemos? Nada, pois ao contrário dos grupos que nos atacam, nós não temos a capacidade de união. A minha proposta é revertermos esta situação. Podíamos, por exemplo, vestir roupinhas iguais, organizar grandes acampamentos de publicitários onde passaríamos a noite a cantar jingles em volta de uma fogueira.
Também podíamos organizar grandes passeatas para manifestar o "orgulho publicitário". Depois, era possível tentar transformar o nosso modo de vida em ícone fashion. As mulheres passariam a arranjar melhores amigos publicitários. Alguns de nós poderiam esconder a profissão da família, as pessoas diriam que não tinham preconceitos contra nós e que até tinham amigos que eram publicitários.
Outra alternativa seria agirmos como vendedores de carros, seja lá como aja esta classe tão oprimida.
Se fôssemos unidos como são os outros, estaríamos protegidos contra as regras absurdas dos concursos, contra as acusações de termos criado o consumismo, contra os ataques dos escuteiros. Só que da forma como somos, preferimos ficar a reclamar da falta de liberdade, mas cada um no seu canto.
* Paulo Stenzel é Director Criativo da Sardinha, é publicitário, já foi escoteiro, está a vender um carro e até tem um amigo que é gay.
1 comentário:
O pessoal gosta sempre das festinhas "do mercado", mas, l
a está, é para comer e beber à pala, e ver e ser visto para depois falar mal, mando as bocas mais uber-cool que conseguir. :)
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